12.13.2011

TEASE / TEASER

Entre outros significados:
(verb)  To arouse hope, desire, or curiosity in without affording satisfaction.
(noun)  An advertisement that attracts customers by offering something extra or free. Slang. An attention-getting vignette or highlight presented before the start of a television show.

Visite o site acima, clique em contos e, ao “tuitar” uma mensagem divulgando o autor (é fácil: é só seguir as instruções), você ganha o direito de baixar um dos seus contos. Obviamente, escolhi o conto abaixo “O Tradutor”. Só coloco o início, como “teaser”:

O TRADUTOR
      Meu nome é João Karragota. Costumo dizer que há três coisas que o povo jamais deveria saber como são feitas: as salsichas, os acordos políticos e as traduções literárias. Falo com conhecimento de causa, pois sou tradutor. Não existe tradução perfeita. As línguas são diferentes, as culturas são diferentes. Por mais que nos esforcemos em sermos fiéis ao original, nunca conseguimos atingir a perfeição, porque ela é simplesmente impossível. Dizem que uma boa tradução é aquela que menos se afasta do original. O tempo inteiro estamos fazendo escolhas. O que é menos pior? Isso ou aquilo? Se traduzir assim, me aproximo do sentido original, mas perco a graça da aliteração feita pelo autor. Se traduzir assado, me afasto do sentido, mas respeito a forma. O tradutor é como um médico diante de um paciente sem cura.
     Sou filho de imigrantes cingaleses [nativo do Ceilão] e estudei em um colégio francês. Cursei Letras, morei na França por alguns anos e depois que voltei ao Brasil passei a trabalhar com traduções do francês para o português. Recordo muito bem o dia em que descobri como são feitas as traduções. Eu tinha dezoito anos. Era um leitor assíduo de Dostoievski. Já havia lido Os irmãos Karamazov, Crime e castigo, O idiota, Um jogador e vários outros títulos. Li todos em francês. Até que um dia me presentearam com uma versão traduzida direto do russo para o português. Foi aí que tive um choque. Era completamente diferente. Parecia outro autor. Pesquisei e descobri que os tradutores franceses rebuscavam o texto original. Deixavam-no mais elaborado, mais sofisticado. Para minha decepção, percebi que não gostava de Dostoievski. Eu gostava era das traduções francesas de Dostoievski. Foi ali também que aprendi que o tradutor é, de certa forma, um autor. Ele reescreve a história a seu modo, com as suas palavras. A maioria, como já disse antes, se esforça para ser fiel. Mas há aqueles que não ligam tanto para isso e preferem impor seu estilo próprio. Ou seguir um estilo imposto pelo mercado editorial, para agradar mais ao público de seu país. Eu sou um escritor frustrado. E talvez por isso tenha decidido ser tradutor: para me vingar dos autores bem-sucedidos e saciar a minha inveja.
       E não pensem que a vida de tradutor é cômoda do ponto de vista financeiro. Quando a língua escolhida é popular entre tradutores, a situação se complica. Há um monte de gente se oferecendo para traduzir livros do francês para o português. Disputar trabalho com jovens recém-formados na Aliança Francesa é difícil. Eles se vendem por pouco. Os preços caem. As traduções, naturalmente, ficam piores. Mas as editoras não parecem ligar muito para isso.
      Os trabalhos têm aparecido esporadicamente. E cada vez por valores mais baixos. Eu estava quase desistindo da minha carreira quando...”